O FEDIDO
O FEDIDO
(FATO VERÍDICO)
Acho que meu amigo é meu inimigo
O elemento é meu desalento
Bebe, fuma e pragueja descomedidamente
Seu desleixo não tem antecedente.
Isso não é nada
O pior de tudo...
É que ele fede...
... Fede muuuiiito.
Toma somente um banho ao dia
Durante a manhã sua companhia...
... É uma alegria.
Odores de flores de todas as cores
Roupas com vinco, sapato um brinco, labora com afinco.
À tarde, após vencer os benditos odores
... Vêm as dores...
O fétido entorpece minhas narinas... Fecham-se as cortinas.
E isso afeta o seu comportamento...
Que sente que nós, sentimos o seu apodrecimento.
Sua camisa suarenta
Encorpa no corpo pegajoso.
Sua calça abunda na bunda
E seu óculo jaz pesaroso.
À noite a coisa incandesce...
A razão desvanece...
A educação adormece...
Ele sabe que sabemos
... Mas, é nosso superior
Temos de agüentar o seu fedor.
Tive o desprazer de conviver
(se é que se pode dizer. O que fazer???)
Durante dez dias, sem economias
Num alojamento, que era o meu perecimento.
Queria me enforcar...
Meu paladar se ausentou
Meu olfato vomitou
E meu olho chorou.
(somente um, pois o outro eu o mantinha ileso para vê-lo bem longe de mim).
Meus sentidos não tinham gostos...
Mesmo procurando o lado oposto
Ele sempre vinha ao meu posto.
Preferiria por mil vezes cheirar esgoto
Inalar arroto... De qualquer ignoto.
Ventilador? Só se for a favor da corrente
Seria imprudente, teria um colapso iminente.
Houve um dia que lhe demos um banho de cerveja
E ele, ainda teve o descaramento de dizer:
Que iria ficar fedido.
Oras!!! Qualquer gambá seria mais polido.
Minha infelicidade teve fim
Alguém ouviu minha oração...
Foi transferido para outra unidade... Não quis saber em que cidade?!?!?!
Depois dessa experiência, tudo virou um jardim...
Mas, apiedei-me do desafortunado que o teria em seu pelotão.
Fiquei traumatizado...
Desde àquele tempo, tomo cinco banhos ao dia
E mesmo a 0°...
Sei que não é normal...
Mas àquele desgraçado
Foi minha agonia.
Uma vez ouvi dizer
Que ele se casou
Depois se separou
E mais depois ainda, se enviuvou.
Com esse cara todos os mortos ressuscitaram
Os mudos falaram...
Os cegos enxergaram...
Os sem braços nadaram...
(...)
E acho... Que todas elas se sepultaram.
CHICO DE ARRUDA.