T E M P O S D E O U T R O R A
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O meu rosto era lizinho,
Um encanto, a pele macia,
Que para o meu lado atraia,
De cem, noventa e oito guria!
O sorriso iluminava, bailando,
Em contornos puros e limpinhos,
Naqueles tempos, todas diziam,
Que eu era muito bonitinho,
E todas elas queriam desfilar
De par, com um belo brotinho.
Na gíria, eu me tornei,
Sem saber o que significava!
Um pedaço de mau caminho,
E nas rodas, sempre fui citado,
Como um lindo e gostoso galetinho!...
Claro que na época, eu ficava feliz,
E me escondia em algum cantinho
E em beijos e abraços, desfrutava,
De amor e meigos carinhos.
Mas hoje, prendo-me a pensar,
Eu era mais um, bem enfeitadinho,
E na real, pouca coisa pude aproveitar,
Usando sérias palavras, vejo hoje,
Como era tolo, um mero pavãozinho,
E nas normas da vida, não vim a me adequar,
Há, mas era bom, de todas, eu era o queridinho.
A juventude voou, eu não a vi passar,
E não reparei que em meus cabelos
Algumas mechas estavam a branquear,
E estas rugas que os olhos estão a enfeitar?
Esta pele flácida me deixa aborrecido,
Pois quase ninguém a quer mais acariciar!
Mudei a forma dos sentimentos e o jeito de amar,
E já não é mais o mesmo o brilho de meu olhar.
E o meu lindo sorriso, aquele rosto lizinho?
Pergunto ao espelho, mas ele,
Em silêncio, se nega a me explicar!
Como é que pode, aquela beleza,
O meu porte elegante, aonde foi parar?
Assombrado, comecei a desconfiar, poxa,
Eu estava envelhecendo. Que horror,
Surpreendido, vi que o tempo, há muito tempo,
Solitário, já tinha me deixado para traz.
Conformei-me, pois os mais velhos me diziam,
Cada ruga é uma experiência vivida!...
Só que eu, admirado, venho a descobrir,
Que passei em branco e fui apenas um queridinho,
E da essência da vida, eu nada aprendi!...
Sem me queixar, ficarei bem quietinho,
Sabendo que, desesperado o tempo foge,
E eu que fui tão bonitinho, infelizmente,
No fim da vida, em silêncio, chorarei sozinho.
Elio Moreira