Enquanto o poeta dorme...
As palavras cruzam-se num ato de amor
E os leitores se aquecem
Os pensamentos florescem...
As letras se roçam
As vogais se coçam...
Os acentos sopram
As consoantes se espreitam...
As cedilhas deitam
As vírgulas ferem
Os pontos finais fogem...
E os tremas sobem
O vocabulário se esconde...
O verbo logo age
O sujeito aparece...
O parágrafo resplandece
O objeto se perde...
Entre o direto e o indiretamente passado
O dicionário é aberto
Para ver o mais que perfeito instalado
Mas o pretérito se explode!
E os adjetivos vibram!
Os subjetivos exageram
As interjeições promovem comoções
Na curiosidade das interrogações
Os pronomes dançam... Entre eu e você...
Os predicados são sacados
Os artigos ficam indefinidos
O presente e o futuro se confortam
As preposições arrasam...
E as silabas são seqüestradas...
Os sufixos ficam fixos
Enquanto os poemas dormem
Nos braços dos radicais
As reticências se insinuam
As conjunções não conjuminam
E os versos não terminam...
Porque brigam com as metáforas
E se assanham com as parábolas
Que insistem em fazer bagunça...
No namoro do prólogo ao epílogo
Tudo se enrola
A tese transa com a antítese
E nasce a síntese...
Então fica o dito pelo não dito...
E assim escrevemos mais um dueto
Ou será um soneto... Meio canhoto
Vai ver que é mesmo destro
Sem o respirar do ponto e vírgula
Ou o chapéu do circunflexo.
Estamos perplexos!
Mas será o Benedito?
Duo: Enise & Hilde