IMPLORANDO A SÃO PEDRO

IMPLORANDO A SÃO PEDRO

Onde o cão perdeu as botas,

O velório é diferente,

Põe-se o morto lá na sala,

Onde ajunta muita gente,

Pra se velar o finado,

Não tem salão preparado,

Com os luxos dos viventes.

Zé Bode quando morreu,

Veio toda vizinhança,

Pra passar a noite inteira,

Cochichando e enchendo a pança.

Tomando café com bolacha,

Alguns bebendo cachaça,

Quase virou foi festança.

Não estranhe essa conversa,

Isso é costume por lá,

Só a família é que chora,

Os outros vão xeretar.

Na cozinha, tem banquete,

Não sobra um só tamborete,

Para os da casa sentar.

A morte do pobre Zé,

Não foi grande novidade,

A notícia era Dercy,

Que era então celebridade.

Personagem irreverente,

Teimava em virar semente,

E viver pra eternidade.

Chegaram juntos ao céu,

Dercy Gonçalves e Zé Bode,

O Zé pediu pra entrar,

São Pedro então disse, pode.

Dercy ficou emburrada,

Falou - porra camarada!

Quero voltar; me devolve.

Deixa eu rolar mundo abaixo,

Só parar num pau de sebo,

Roçar nele até o chão,

Cair em pé dando o dedo,

Botar os peito pra fora,

Dizer - cacete eu agora,

Voltei só pra fazer medo.

Fátima Almeida

Mary Fa
Enviado por Mary Fa em 05/08/2008
Código do texto: T1114096