Tem uma dor no poema...
“Se tu soubesses, quando deixamos de ter os nossos velhos, até que ponto lamentamos não lhes havermos dado mais do nosso tempo.” Daudet, Alphonse
Meu pai, quando morreu naquele dia,
morreu, apenas, parte dele.
Do inteiro que ele era,
grande parte foi se perdendo pela vida...
Tornou-se triste e morreu um tanto dele.
Por mais que se fizesse,
não lhe chegava a alegria.
Nada lhe era bom que o contentasse.
Depois de perder o entusiasmo, resta pouco.
Resta nada, se não quiser se erguer e seguir...
Os dias e as noites conjugam-se. Tornam um escuro só.
Depois, é o coração que bate e bate não se sabe por quê.
Se não lhe escapa um sorriso por quase nada,
É porque quase nada lhe resta nesta vida...
Um mundo entre a cabeça e os pés da cama,
mundo não é... nem cama. É prisão de um ser livre.
Meu pai já não sorria nem chorava,
porque nada mais lhe tocava de verdade...
Tudo fizemos. Eram médicos de corpo, mente
e alma. E remédios e remédios que não remediavam.
Deve ser a tristeza um vício
que facilmente nos faz dependentes.
O caminho mais curto que há é a falta
de desejos e a ausência de sonhos reais ou ilusórias.
Meu pai foi morrendo pouco a pouco
pelo caminho. Naquele dia em que, a
vida de fato lhe deixou, ele não era mais ele.
Era, na verdade, uma sombra fraca do que foi.