PERDOA-ME, PAI
Perdoa, pai,
a loucura da minha vida.
Eu te fiz sofrer tanto e tantas vezes
na rebeldia da minha alma.
Na tua integridade e retidão
vias em mim o retrato
escrito e falado da rebelião.
Em teu caráter austero
a minha revolta não combinava
com teu olhar sereno!
Perdoa-me, pai,
se pudesses ver hoje, dia do teu aniversário,
como me dói lembrar-te distante de mim
por minha própria culpa!
Perdoa-me, pai.
Ah! se eu pudesse dizer-te quanto me dói agora
ter-te deixado afastar-se de mim!
Ah! a minha alucinada independência!
a minha irracional inconseqüência!
Quando eu te via sair, indo embora,
que vontade tinha de correr e abraçar-te,
deixar-me ficar presa em teus braços de amigo,
receber teu beijo, que quase nunca tinha!
Colocar-me como uma menininha
debaixo de tua proteção!
E deixava-me ficar quieta no portão
a te olhar de longe...
E de longe, Papai, hoje, que a vida
me castigou e, sem conseguir dobrar o meu espírito,
conseguiu fazer-me quieta,
hoje que seria o aniversário de teu nascimento,
a tristeza, a dor do arrependimento,
esta profunda e dolorosa saudade
me enche os olhos de lágrimas inconsoláveis.
Perdoa-me, papai, onde estiveres!
PERDÃO!
Campinas, 20 de Abril de 2000
(ele faria 99 anos!)