MEU PAI E O MAR

MEU PAI E O MAR

Meu pai não conheceu o mar.

Em sua solidão metódica,

penso que ele sonhava com a imensidão azul

que bailava pra lá e pra cá,

tendo como fundo musical apenas os acordes do vento.

Na luta de cada dia, aqueles olhos serenos

viajavam por distantes paragens

e, em constante solilóquios,

sondavam os limites do horizonte.

Sua maior ação – contemplação.

Noite após noite, mirava as estrelas

que se sobrepunham ao tempo e,

no espelho do céu, admirava as nuvens

em seu bailado indiferente

quando brincavam de fingir imagens

e depois se dissipavam no ar.

Ainda assim meu pai pensava no mar.

Mesmo quando a brisa amena da tarde

dobrava suavemente as folhas do arrozal

seus passos lentos sonhavam com ondas

que, possivelmente, viriam desabrochar na areia.

Entre os veios da memória guardei

muitas histórias de lobisomem,

tantas lições extraídas de sua aritmética

e sua dúvida maior: onde será o fim do mundo?

Será que fica além do mar?

Basilina Pereira

Basilina Divina Pereira
Enviado por Basilina Divina Pereira em 03/11/2012
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