POEMA PARA MEU PAI
José António Gonçalves
para a Arabela, o Marco e a Natacha
sobre o teu ombro
eis o umbral da porta
a sombra das tuas mãos
enrugadas
desenhei as tuas viagens
nos cadernos escolares
e salvei-te muitas vezes
dos monstros de cinza
que te perseguiam
no breu das águas
perguntava à mãe
porque sempre partias
e ela fazia-me uma festa
no cabelo
e ficava horas a olhar
sozinha o horizonte
numa redacção tive
de explicar o sentimento
a minha opinião de criança
sobre o pai emigrante
e eu pensei logo no vento
do mar das Caraíbas
e no Sol da Aruba
espelhando-se no Curaçau
estavas muito distante
e afinal ali tão perto
no coração de outras ilhas
quis confessar-te um dia
como é bom o amor de um filho
mas só houve silêncio em casa
na rua gritava o teu nome pai
e de ti só dizia maravilhas
José António Gonçalves
(inédito.19.03.05)