Perdão
PERDÃO
Poesia feita para minha genitora
Vou tentar em poucas palavras, dizer quem sou eu. Faço da leitura uma arte e da escrita uma prece.
Recitei meu primeiro poema aos quatro anos de idade, e não estava acordada, dormia e sonhava. Meu irmão mais velho, Jorge, lendo um poema que fazia parte de um exercício de dever de casa, na tarde daquele dia.
Jorge havia lido esse poema o dia todo. Gostei do poema, e esse não saiu da minha cabeça.
Contava mamãe, que às duas horas da madrugada, assentei na cama, dormindo, ergui os braços para o céu e declamei em voz alta.
A estrelinha “Martins de Alvarenga"
Vejo no céu uma estrelinha piscando, piscando
Mamãe disse que ela de longe, pisca, pisca me chamando
Quando eu crescer, papai me comprar um avião
Vou buscar-te estrelinha na palma da minha mão.
Mamãe contava que levou um susto tão grande, que de um salto se levantou, olhou para papai, que também acordara e disse: Essa menina só pode ser doida, nessa idade falando poesia... e pior as duas da manhã.
Naquele tempo, há quarenta e cinco anos atrás, mãe não incentivava os filhos, como hoje fazemos.
AS mães amavam seus filhos, só que não tinham tempo para ouvir-los, elas não sabiam como hoje, ver e reconhecer um talento, investir em uma boa escola ou elogiar, mas a cobrança era muita, estudei apenas até a quarta serie primária, ganhei uma bolsa de estudos, mas por crueldade do destino e ignorância de meu pai, devolvi os documentos que levei para casa para eles assinarem, dizendo eles: meninas não precisavam estudar...
O tempo passou e a menina doida que recitava poesias, aos quatro anos de idade, cresceu e aos sete, não recitava poesias de autores que não conhecia, ela escrevia suas próprias poesias. Era com alegria que recitava nas festas de família, na escola, na igreja e aos onze anos, nos ouvidos dos namoradinhos.
Mais tarde, a menina doida, menos doida um pouquinho, casada e mãe de três filhos, cuidando de sua mãe no leito de morte, ouviram atenta seu pedido:
_Filha sei que gosta de escrever, sei também que nunca lhe incentivei, você já fez versos para teu pai, porem para mim nunca fez, será que você pode recitar uma poesia ou um verso para mim, antes que a morte venha me buscar.
Foi com dor no peito que a noite escrevi sua única poesia, no outro dia, após o café da mãnha eu lhe recitei. Ela partiu e foi morar com Deus, sete dias depois.
Mamãe sei que você não sabia
O talento que tinha sua filha
Aquela que parecia doida
Hoje vai lhe recitar uma poesia
Não tive raiva mamãe
Pois, eu também não sabia
Que era daquelas palavras
Que de ti eu merecia
Se tivesse elogiado
Talvez nos dias de hoje
Eu não saberia escrever
E poetiza não chegaria a ser
Pequena era sua estatura
Mas gigante se fazia
Pois foram essas palavras
Que incentivaram sua filha
E hoje lhe digo palavras
Vindas do meu coração
Vejo em você só grandeza
Cercada de emoção
Sabemos querida mãezinha
A tristeza da situação
Fisicamente irás embora
Mas ficarás em meu coração
Essa doença cancer maldito
No estomago veio instalar
De você mãezinha querida
Só gratidão vai iras ficar
Você não cursou escola
Mas soube com exatidão
Colocar os pingos nos is
Também o x da questão
Ensinou-me dividir alegrias
Somar muito mais compaixão
Diminuir maldades e tristezas
Multiplicar amor, carinho e paixão
Para mim foi só alegria
E se o tempo der permissão
Os dias que lhe restarem
Serão poesias, amor e paixão.