Inerte genitor
As linhas graves do meu rosto obsceno
Se acentuam quando a luz se apaga.
É em decorrência da ancestral praga
O que me faz sentir pequeno.
Ao ver-me atualmente
Sinto uma hostil vergonha
Por aquela míope cegonha
Que me lançou no meio dessa gente!
Aziaga foi a sina genética
Que herdei do torpe progenitor;
A mim só perpetuou a dor
De ser alma patética.
É a aflição tácita em acúmulo
No músculo do sistema nervoso;
É a maldição que não ouso
Acatar nem no fundo do túmulo.
Não sei se é desprezo ou pena
O que me incita ânsia
Ao vê-lo gesticular com arrogância
Fúteis queixas (uma habitual cena).
Talvez, com a extinção de sua presença,
Manifestar-se-á uma lembrança reprimida
Ignorada durante toda a vida
Que suscitará uma saudade imensa.
08/05/11