Inerte genitor

As linhas graves do meu rosto obsceno

Se acentuam quando a luz se apaga.

É em decorrência da ancestral praga

O que me faz sentir pequeno.

Ao ver-me atualmente

Sinto uma hostil vergonha

Por aquela míope cegonha

Que me lançou no meio dessa gente!

Aziaga foi a sina genética

Que herdei do torpe progenitor;

A mim só perpetuou a dor

De ser alma patética.

É a aflição tácita em acúmulo

No músculo do sistema nervoso;

É a maldição que não ouso

Acatar nem no fundo do túmulo.

Não sei se é desprezo ou pena

O que me incita ânsia

Ao vê-lo gesticular com arrogância

Fúteis queixas (uma habitual cena).

Talvez, com a extinção de sua presença,

Manifestar-se-á uma lembrança reprimida

Ignorada durante toda a vida

Que suscitará uma saudade imensa.

08/05/11

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 01/06/2011
Reeditado em 26/02/2013
Código do texto: T3007219
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