Lembranças de meu pai
Zilda Cardoso
Lembro-me de meu pai quando eu era menina,
Criança ainda.
Nas noites de tempestade,
Quando assustada eu acordava,
De um salto, da cama, eu pulava
e, como um bichinho acuado,
Ao seu lado me deitava.
Ficava assim, juntinho dele,
Esperando a chuva passar,
Pois tinha tanta certeza
Que só ele poderia meu medo afastar.
Lembro-me de meu pai
Quando viajava de deixava-me
Triste, saudosa, “sozinha”...
Para o armário eu corria,
Suas roupas eu abraçava
E começava a chorar...
Ah! Meu pai, quanto eu o amava!
Quanta saudade eu sentia
Cada vez que ele partia.
Foi assim por muito tempo,
Durante toda a minha infância.
Muitas lágrimas derramei
Por não suportar sua ausência.
Lembro-me de meu pai
Sentado à mesa, olhar tranqüilo,
Semblante sereno...
Sempre com um sorriso estampado nos lábios.
Jamais levantava a voz...
Tinha uma maneira peculiar e bondosa
De dirigir-se a cada filho.
Lembro-me de meu pai
Quando, sem ao menos saber,
Passava-me as mais singelas mensagens.
Com ele aprendi o verdadeiro sentido da honestidade,
Da paciência e da humildade.
Com ele aprendi o sentido da palavra confiança,
Da palavra perdão...
Aprendi o sentido do amor e da gratidão.
Meu pai... Quantas lembranças!
Quantas saudades!
Lembro-me que um dia eu,
Com muito medo... Apavorada
Diante de um temporal que ameaçava desabar, falei:
“- Tenho medo, meu pai!” E ele me respondeu:
“- Não precisas ter medo. Deus nos cuida.”
Jamais esqueci suas palavras.
Senti o quanto era imensa sua fé.
De súbito uma estranha calma tomou conta de mim
E o medo passou.
Lembro-me da simplicidade
E sabedoria que tinha meu pai
Ao passar-me lições de vida
Que nunca encontrei em lugar algum...
Lembro-me de meu pai
Já velhinho... Olhar cansado...
Cabeça branca... Passos vacilantes...
Caminhando ao meu lado.
Contando-me histórias engraçadas,
Sempre com aquele sorriso doce.
Lembro-me de suas mãos trêmulas...
De seu jeito amigo debruçado na janela,
Com o olhar perdido no distante passado...
Quantas lembranças, ó Deus!
E foi naquela manhã de primavera
Que ele, depois de fazer-me uma visita,
Despediu-se de mim.
Abracei-o , beijei-o, pedi-lhe a bênção e ele se foi...
Fiquei na porta, parada, acenando.
Com os olhos cheios de lágrimas
Vi o carro desaparecer na curva da estrada...
Os passarinhos, naquele dia, cantavam.
As flores desabrochavam.
O céu era muito azul e o sol estava a brilhar.
Mas, que sensação de agonia
O meu coração sentia
Que eu não sabia explicar...
Ainda hoje, quando me lembro,
Fico muito triste, pensando...
E uma lágrima de meus olhos cai...
Pois, depois daquele dia de tão amarga despedida...
Eu nunca mais vi MEU PAI!
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Palmas, 29 de outubro de 2010.