O Parque De Diversões Da Cabeça De Ferlinghetti

Li Ferlinghetti e o livro acabou

E a vontade de continuar lendo

Seus versos continuou. Serenas

Imagens de fantasmas urbanos

E gente do museu de cera da vida

Que o vento levou. O poeta sonhou

Todos os seus dentes haviam caído

Sua imagem sobreviveu à vida

Sua história continuou. “Sou um

Pianista num cassino abandonado

Numa colina à beira da praia. Em

Meio ao espesso nevoeiro, sempre

A fazer soar os sons”. Poetizando

Os tons da longa rua onde habitam

Cheias de falácias as musas calipígias

Seus filhos, tudo que aprenderam em

Vida foi o tagarelar miríades de

Mentiras pelos cotovelos. E a delirar

Ressentimentos. O poeta ouve as

Almas silenciosas expelirem de seus

Corpos silentes flatulências na noite

Caem e quedam abandonadas as mães

E seus mil filhos ausentes. Entes

Dançam em seus versos os pensamentos

Pálidos de lá para cá nos banheiros e

Jardins das casas. Buscam inutilmente

Preencher o vazio impreenchível dessas

Vidas rasas. Onde não há lugar para um

Único siso, um único livro que não seja

O mais entre os dez mais.

Copiei Ferlinghetti.Vi seu espelho de

Almas passeando as carnes tranqüilas

Tão magoadas pelo metrô, no táxi, como

Se fossem, creio, momentos de recreio.

(Como, se estavam tão aflitas?)

Suas vidas queimavam em prantos

E vertiam palavras caladas, como se

Falassem com fantasmas à espera,

Também elas, da estação final.

Onde seus corpos pudessem logo

Descer, definitivamente à escada de

Incêndio construída por Dante. E em

Suas sombras pudessem, afinal,

Se esconder.

Nos versos de Felinghetti

Uma vida fácil, ao mesmo

Tempo de cão, por viver.

Quantos rabos a se alimentarem

Da livre iniciativa empertigada

No circo de pulgas democrático

Do mundo livre. Buscam o

Alimento fugaz das mídias

Almoçam e jantam canais de tv.

Uma antropofagia muito absurda

E muito deprimente entre dois

Espaços pagos pela propaganda

Do vt.

Se brasileiro fosse

Diria talvez sobre os Nardoni:

Caetés devoraram uma

Menina de apenas cinco anos

Roubaram-lhe décadas de vida

Imprimiram-lhe o desespero das

Almas perdidas. A criança notícia

Na sala de estar enfunou as velas

E o paladar das pessoas da sala de

Jantar. As mulheres, esposas dos

Lordes, esculpem seus corações de

Pedras lamentando o caminho da

Menina à morada da morte. Afinal,

Uma oportunidade de rezar o padre

-nosso constipado pelas meias-

verdades tão poucas saudáveis

Entre um e outro melancólico

Lavar louças. As calças arriadas

Ao pé da cama. O amar: seus troços e

Cacarecos à mostra. A rotina dos

Gestos se repetem da mesma forma

Na noite interminável, as intenções

Dolosas que vão motivar a rotina

De outro dia na praça fortificada

Do lar. E elas, as esposas desses

Guardas de casernas repetem

Ainda outra vez:

“E aí benzinho, vamo nos deitar

por aquis”?

— Let´s lie down somewheres, baby!

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 20/04/2010
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