Fim de tarde.
Arrasto os chinelos pela casa.
O sem ter o que fazer me deixa languida.
As flores vermelhas no vaso branco
são como manchas de sangue.
É minha alma que está ferida
mas o corpo reflete a mágoa doida.
O que pode ser mais triste
do que não ter o que fazer?
A sombra passa pela sala
como um coelho arredio.
Estarei vendo fantasmas
em plena luz do dia?
Um banho quente acabaria logo com isso.
Mas o chuveiro está estragado.
A sombra lança pedaços de sua ira
e a jarra branca se espatifa no chão.
Caco por caco tento refazer
a forma perdida.
Mas, para a vida, não há super bonder
no super mercado.
Então o cheiro de café coado
recende pela casa.
E tudo se anima.
O coelho volta para a cartola do mágico,
De todos os pontos da cidade
surgem as vozes famintas
que se juntam em torno da mesa
da cozinha.
São cinco horas da tarde
e eu tenho uma família.