No claustro
O claustro não é claro,
Mas de lá se vê a luz.
O claro da luz, raro,
Tênue, sobre a cruz.
Molduras tão mórbidas,
Pardas, tristes em luto.
Concretos entre sombras,
Silêncio absoluto.
Numa marcha fúnebre,
Sujas e amarelas,
Melancólica febre.
Dançam em chamas – velas.
Mãos estendidas ao céu,
Manto puído no chão.
A fé amarga o fel.
Joelho, dor, oração…
A prece sobe, enfim,
Pelas trevas alumia.
As pinturas em carmim,
Velam a luz do dia
Rostos, pinturas, teias,
Aranhas e morcegos.
Estátuas velhas, feias,
Libertando os medos
A penumbra decora,
O átrio dos sussurros.
Doce é aquela voz
De sentimentos puros
Segue a reza – terço,
E mistério, e conto…
Oh, meu Deus!Se mereço…
Vê que não sou um santo…