Clamor ao Pai

Pai, imploro-te: livrai-me deste cálice amargo,

Que pesa em minh’alma qual chumbo dos dias penosos,

As preces que gritam nos meus templos sangrentos e ansiosos,

E o frio que as esperanças varrem, feroz e largo.

Pai, suplico-te: afastai de mim o cálice deste injusto sofrimento,

Meus rins não funcionam, meu corpo não é mais meu,

Cada batida do coração parece um aceno de adeus,

E minha vida se esvai entre hemodiálise e tormento.

Pai, imploro-te: livrai-me deste fardo sem sentido,

Quando as trevas, descendo, vestem-me em negro manto,

E os sonhos, despedaçados, desfazem-se em pranto

Sob o rigor da dor que se tornou meu único amigo.

Pai, tende misericórdia e livra-me desta luta sem fim,

Pois cada passo, em abismo, me deixa ferido,

0 corpo, tão cansado, procura em vão o abrigo,

E os olhos se cerram em busca de alívio, enfim.

Pai, rogo-te: livrai-me do peso que cada dia me trama,

Os dias me esmagam, sem promessa ou consolo,

Como folhas que o Tempo leva em desengano e dolo,

E a esperança, tênue, foge-me como papel em chama.

Pai, imploro-te: livrai-me da dor que já não sei suportar,

Meus pés, falhos, erram no caminho escuro,

E a fé, trêmula, no céu se perde em murmuro,

Enquanto minh’alma vacila sem nada alcançar.

Pai, meu Pai, sou Teu, sou tua ovelha perdida

Que vaga nas sombras, sem rumo ou guarida,

Em prantos clamo, alma na aflição consumida,

Buscando em Teus braços a cura prometida.

Se os caminhos se fecham, em treva e tormento,

E o vento, cruel, sussurra e ri o meu lamento,

Pai, ergo a Ti os olhos, sedentos por acalento,

E que em Teu peito finde o meu sofrimento.

Pai, rogo-te: se o deserto foi-me destinado,

Concede-me a placidez de sentir Vosso amor em meu peito,

E que cada espinho, embora cruel e tumefeito,

Seja-me flores de ressurreição em Teu solo abençoado.

Pai, meu Pai, tão vilipendiada vive esta tua ovelha, ferida;

Em meu andar errante, Pai, suplico, chorante, por Teu amparo e abraço;

Dá-me Tua mão e compaixão, Pai; deixa-me reclinar em Teu regaço,

E leva-me ao jardim da paz, onde minh’alma será redimida e revivida.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 07/09/2024
Reeditado em 08/09/2024
Código do texto: T8146191
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