FORASTEIRA

Oh forasteira que passas pelo meu caminho

Vestida deste olhar distante e pensativo—

Vens de longe, de terras para lá da planície

Com histórias a guardar

No teu passo firme há uma caminhada lenta

Que renasce a cada manhã

Todavia, hoje, em meio desta encruzilhada

Onde o tempo parece ter perdido o sentido —

Eu te paro e te pergunto

Com ânsia imensa e expectativa intensa

Diz-me

Será que ainda vês encanto nas coisas simples

Nos sorrisos sinceros e nas mãos dadas?

Ou a hipocrisia e a ganância são o que mais

Prevalecem

Neste mundo onde tudo parece tão distante?

Diz-me

Filha dileta daqueloutra savana (terra de Kihuhu*)

Tu que trazes preceitos para instruir

E preces que insistem em resistir —

Como posso encontrar um tanto de felicidade

E outro tanto de dignidade

Que por muito anseio

Em espaços violentados de tal maneira?

Fala-me, se queres, dos teus sonhos e desejos

Que sagradamente levas a peito

Fala-me das tuas lutas e conquistas

E também das coisas que te fazem acreditar—

Oh forasteira, que te ocorre de tudo isto?

Bem sei que as respostas não vêm fáceis

Pois a vida tem demasiados caminhos

Cheios de passos em falso —

Porém ao contemplar o futuro incerto

Vejo no teu olhar distante e pensativo

O caminho certo a percorrer, e afinal

Em tuas palavras, sinto que tudo faz sentido.

*Kihuhu: animal fabuloso misto de águia e leão.

Escrito em Kimbundu.

Tradução portuguesa do Autor.

KibaMwenyu
Enviado por KibaMwenyu em 12/02/2023
Reeditado em 18/08/2024
Código do texto: T7717923
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