Fútil
Rasguei tudo o que escrevi
Joguei fora o sonho inútil
Hoje do meu ser me perdi
Deixem-me ser tela fútil.
De novo agora na ausência
De algemas pr’ o esquecimento
Liquido a minha existência
Já falida em vão tormento.
Em leilão aberto ao vento
Rifo os sonhos de uma vida
Pagando eu pr’o sustento
Dessa brisa decidida.
Mas quem passou não parou
Nem os quis sequer olhar
Como um cão que abandonou
Sem remorso ao seu penar.
Coliguei-me com serpentes
Que na garganta rolavam
Mordi com todos os dentes
Venenos que encantavam.
E neste encanto me armei
De um fútil que não serei.