AMANHEÇO
AMANHEÇO
Desperto
ouço a passarada tímida e insistente na cidade
a anunciar o dia
o espetáculo que novamente inicia
abre as cortinas do presente
a concretude do tempo
os segundos batendo
o pranto descendo
um que nada alivia.
Nos céus uma nuvem densa encobre o sol
que já vinha
teimoso, coloria o horizonte
entrecortado por prédios
esmigalhado em luzes
ora apagadas, que não mais se via,
ele, que agora se faz cinza
mas não deixa de iluminar a treva
da noite que já se ia.
Amanheço
salpicam-se-me os pensamentos
a mente nada vazia
o corpo ainda dormente
se lança, se inicia,
sua doce e dura jornada
labuta, luta, cura,
mais uma ferida.
Me enterneço
me dou colo
oro, procuro o Altíssimo
vestido nas cores celestes
peço fé, peço amor,
peço perdão, peço pelo meu irmão
peço a solução
peço inspiração
em dias de pandemia,
peço as palavras, o dorso inclinado,
o corpo ajustado
a alma incitada
a dizer
poesia.
@Cristina Lebre