A corrida
Sim, vou correr.
Calçarei meus tênis olímpicos
com poeiras de Maratona
e sim, vou correr.
Correrei com um cisco arranhando o olho
e mesmo assim terei prazer.
Minhas carnes vão pelo caminho desprendendo-se
dos ossos
e me sentirei leve.
Meus pulmões, pelas ventanas das vértebras,
estarão brancos como a novidade.
Meu nariz se apropriará de todo o ar ao meu
redor.
Minhas pernas não sentirão as delícias da fadiga
que galgam o morro
em suma:
se morro, morro
se jorro, jarro
se corroo, catarro.
A linha de chegada
será o suor que respinga de minha luta.
Não tenho cronômetro.
Não tenho quilômetro.
Não tenho quimera.
Sim, vou correr.
Calçarei meus tênis olímpicos
com poeiras de Maratona
e cuspirei sobre
a medalha.