A Arte da Esperança finda

A estatueta

de São Francisco,

amadeirada de aniversário desusado

de totem:

Hoje transformo

em tela.

Matisse e Munch, talvez.

Constato

na filosofia

e no silêncio

do adro,

pobre de Assis,

que pobre eu sou.

Acredito na primavera

inaugural

de um bom amor

e festins de pluma.

No fundo do lago,

do logos,

de meu rosto envelhecido

e narcísico,

vejo que nunca

se intui o amor,

pois o amor

é farsa,

ardil dos deuses,

invenção da pompa rosa de estetas,

estatueta rachada

sob estrelas

e idealismo de simulacro.

Hoje,

indiferente,

quase niilista tardio,

caminho

sobre ossos,

gravetos secos

e, acredite,

volto a franzir

a testa macilenta

de gozo torpe

e a eterna

e falsa

ânsia de um punhal

de Merisi da Caravaggio

cravado

no flanco esquerdo,

meu.

Gleidson Riff
Enviado por Gleidson Riff em 13/02/2020
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