A Arte da Esperança finda
A estatueta
de São Francisco,
amadeirada de aniversário desusado
de totem:
Hoje transformo
em tela.
Matisse e Munch, talvez.
Constato
na filosofia
e no silêncio
do adro,
pobre de Assis,
que pobre eu sou.
Acredito na primavera
inaugural
de um bom amor
e festins de pluma.
No fundo do lago,
do logos,
de meu rosto envelhecido
e narcísico,
vejo que nunca
se intui o amor,
pois o amor
é farsa,
ardil dos deuses,
invenção da pompa rosa de estetas,
estatueta rachada
sob estrelas
e idealismo de simulacro.
Hoje,
indiferente,
quase niilista tardio,
caminho
sobre ossos,
gravetos secos
e, acredite,
volto a franzir
a testa macilenta
de gozo torpe
e a eterna
e falsa
ânsia de um punhal
de Merisi da Caravaggio
cravado
no flanco esquerdo,
meu.