Rio da Vida
Feito a areia do deserto, que se move a cada dia, mudei-me de forma, uma forma ainda incógnita e inexplorada. Você fez isso, transformou-me.
Quando olhei em seus olhos, encontrei você, não estavam ausentes. Mas tão ligeiramente, esvaeceram, e me deparei na penumbra das lembranças que restaram daquele olhar fugaz e intenso.
Um tempo vivido...
Invisível aos olhos alheios. Ninguém me via. Caminhava sorrateiramente, sentindo o frescor da brisa da noite, misturada com o silencio gritante do escuro.
“Não havia ninguém...”
Eu pensava que tivesse controle sobre a minha vida, sobre o que existia nela, e sobre o que eu ponderava ser essencial. Me surpreendi. Não é possível controlar o curso de um rio tão colossal e forte, não é presumível vencer nadando contra a correnteza da vida. Escolhi não nadar, escolhi flutuar sobre as aguas, permitindo ser movida pela vida, deixando-a surpreender-me.
Afinal, o mistério de viver reside em permitir-se.
Permita-se...