PLANTA VIÇOSA
Entre ocultos desejos
Teimou a plantinha nascer,
Paixão secreta, incontida,
Retalhos de um bem-querer
De futuro incerto, prevejo!
Mas, difícil de se conter.
Germinou em hora errada.
Nasceu na beira da estrada,
Sem cultivo, sem plantio
Resistindo em dura lida
À seca, poeira e ao estio.
A razão do meu lamento
Não é por falta de viço.
Planta de profunda raiz
Caule verde, rama ao vento.
Fruto tenro e boa matiz.
É que virou desatino
Esse amor tão poderoso
E o fruto tão desejado
Tornou-se engorovinhado,
Como capim amargoso.
Vivendo a vida afastados
Sublimamos os instintos.
Qual guerreiros desarmados,
Nos amamos em devaneios,
Mas continuamos famintos.
Vivemos o dom dos amantes
De manter viva a esperança
De que a vida traga instantes,
E que o fruto amadureça.
Nisso, guardo os sonhos meus.
Pois, planta que nasce assim,
Pode ser lavoura de anjos,
Semeada por querubim,
Para a colheita de Deus!