A RAZÃO DO POETA
Onde estás, tu, ó Poeta,
Que já não te sinto mais?
Se a tua vida é discreta
Jamais lhe verás a meta
Sem a luz dos teus sinais …
Se o tempo que tens se vai
Por não sentires emoção
É porque a poesia se retrai
E dentro da alma se esvai
Em busca de uma ilusão.
Onde estás, tu, ó poeta
Que já não ousas sonhar?
Teu poema-borboleta
Não passa de silhueta
No horizonte a esvoaçar …
Se o teu tempo se esgotou
Sem tomar forma de poema
Que razão em ti se gerou
Ou mesmo se mascarou
Agrilhoado num dilema?
Onde estás, tu, meu amigo
Que não vês a tua razão?
Se no meu seio és o trigo,
Hás de nascer aí comigo
Gravado em meu coração.
A ti, poeta, exposto ao vento
Como se foras moinho,
Quero-te neste lamento
Que abras o teu talento
Envolvido de carinho!
Agora, poeta, eu já te vi
Porque, por fim, te senti!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA