Voo de Esperança

Aves agrestes,sêde agoureiras

Dos risos plenos que o amor incita,

Vós que, da aurora ledas mensageiras

Espalhais pelo ar a prece bendita.

Qual um azul firmamento de ouro

Fazei que o peito canta e exulte

Por ter a mulher que,rico tesouro,

O beijo acenda e o sussurrar escute.

Meu coração arde envolto em neve

Na solidão que faz soar o luto,

Mas a esperança, doce harpa leve

Ensina-me enleios pelos quais exulto.

Quando, pelas trilhas de luar brocadas

Segue o meu sonho em regiões de inverno

Como a crença me desenha alvoradas

E imprime o afeto em meu seio fraterno.

Junto aos momentos arquejantes de tristeza

Sempre paira na alma e lhe sustem o canto

Um rosto de mulher,um lume de beleza,

Alçando a mente ao reconforto e canto.

Assim,oh barco de meu frágil sentimento

Sempre um farol dos mares te atravessa,

Mesmo em tempestades e rigores de tormento

Extasiado brado: que visão é essa!

È a visão da fé, borda o futuro,

Enche o espaço de esplendor e humanidade:

Tem compaixão,exclama ao ódio duro

Sorri oh dor : diz ao gemer da mocidade.

Sorri, que do pranto o horror tremendo

Logo verter-se –a em cânticos risonhos:

A juventude pede o estar cantando

E a lira ardente pede crença e sonhos.

A mulher bela, qual a rosa e a brisa

Recama de sussurros pensamento e céu,

Tinta :colore de vida alma indecisa!

Ave:acende o hino da existência ao léu.

Golfo ardente de namoros e poesia

Seu seio arfa ao intimo contato

Ou da andorinha ,que no azul extasia,

Ou da volúpia que doma e acende ao tato.

E tu mulher: és calma na brava tormenta

És vale de amor em meio a escuridão

Ès rosa de inverno que o meu frio alenta,

Memento de vida ao esgotado coração.

Avezitas agretes,sêde agoureiras

Fizeste o meu peito ferido sangrar:

Se sangro: é o batismo da esperança,

Se morro:é a pretexto de amar.