Daltônico
O medo de matar o passarinho verde
Retém em alto gancho certo bodoque;
Pois finge-se morta a brasa e inda arde
Plebeia indiferença mascara ao lorde,
O amor, ainda é válida pedra de toque...
Há outras pedras na algibeira é certo,
Mas, cadê a certeza para as disparar?
Afinal, depois que o volátil for morto,
O risco é que a decepção traga o surto,
Mais intenso que esperança faz surtar...
Assim, olho a mosca mas, deixo o dardo,
Sem sequer tentar para ver onde acerto;
O bom siso gritando e me faço de surdo,
Coração sussurra bem depressa acordo,
Deveras, até durmo, para ele, desperto...
Ao menos, tem a senha que abre sonhos,
Abrindo molda-os conforme ele os quer;
Não sei se os tais são perdas ou, ganhos,
Mas, tenho sorvido tanto desses vinhos,
Que a real parece um vinagre qualquer...
Eta loucura que alimenta essa dura sede!
Divina? Vá saber, talvez derive do capeta;
Devanear no deserto, água, sombra, rede,
Pior, daltônico coração plasmando o verde,
pra negar, a verdade, as penas são pretas...