Naquele dia
Naquele dia,
livre das amarras da incompreensão,
voltei-me para o meu lado espiritual.
Mas nem tanto
que não pudesse antever
a minha encenação naquele palco.
Eu, artista barato,
eu, ator de comédia pastelão,
vivia de papel em papel,
pronto a dar o meu sangue
em cada um deles.
Mas não naquele dia.
Naquele dia eu era o próprio teatro.
Naquele dia as minhas forças
estavam além do fechar-se das cortinas.
Eu era o ator principal da peça.
Meditando, meditador,
de uma espiritualidade
que me devolvesse
a interpretação de protagonista
do resto da minha vida.