Carbono
Carbono
Houve um tempo em que se via em mim chamas.
Incandescentes, implacáveis e ofuscantes.
Lindas eram as chamas que dançavam em mim, por mim, através de mim.
Remoto, esse tempo ficou cada vez mais distante até se tornar apenas resquícios de memórias jogadas ao acaso, na imensidão de uma mente vazia, de um coração seco.
Não sei ao certo o que me tornei, sei que além das cinzas fui parar.
Sou carbono de um velho homem.
Como fugir, escapar da condição decadente?
Como apontar se não há culpados?
Não existe rendição. Deve-se viver sentindo o tom amargo de cada segundo. Deve-se, contudo, aprender, mesmo que da maneira mais difícil.
Hoje, é como se o vento me levasse de volta ao passado.
Imagens estáticas do teu sorriso sorriem de volta pra mim.
Imagens que você sequer imagina que guardo com tanto carinho.
E revivo para aprender a viver novamente.
Das minhas cinzas, sinais de um novo fogo.
Haverá um tempo, não muito distante, em que chamas em mim se farão ver.