EU ERA DESERTO QUANDO TE ENCONTREI

EU ERA DESERTO QUANDO TE ENCONTREI

A poeira fofa no solo mostrava

A minha falta de consistência,

A fragilidade com que qualquer brisa

Podia me mudar de lugar

Em qualquer tempo e direção.

As dunas intermináveis

Era o retrato dos meus altos e baixos.

Vestígios semi descobertos

De um passado longínquo,

Era o achado único

De sentimentos petrificados.

A catedral dos sonhos

Onde repicavam sinos de esperança,

Hoje, é ruína que se desmorona.

Rios de vida abundante,

Não passam de sulcos na terra.

A relva onde pairava o orvalho da noite,

É apenas uma lembrança,

Onde marcava sua presença.

Não queria ter te conhecido

Como deserto, como sou hoje.

Não possuo nada para te oferecer:

Um Oasis,

Uma sombra,

Uma água fresca,

Pra te aliviar.

Nem sonhos pra sonhar comigo.

Sou só essa região inóspita

Onde um processo de regeneração é lento.

Temo por sua fadiga,

Sua desesperança.

Onde talvez você enterre seus sonhos

E eu não consiga resgatá-los.

Não queria ser esse deserto

Onde você se encontra.

Não sei se você

Tem chuva suficiente

Pra me fazer florescer novamente.

Sua água é tão cristalina

Que eu tenho medo de turvá-la.

Mas você é minha única esperança

Da míngua que me resta.

Fique comigo,

Ate onde você suportar.

Se consegues ver beleza nesse deserto

Contemple o que te faz bem.

Eu...

Sou apenas um deserto.

Sou dono dessa areia fina

Que às vezes fustigarei seus olhos,

Deixando-os vermelhos e lacrimejosos.

São as tempestades de areia

Produto de ventos que açoitam

Manhas, tardes e noites

Sem nunca dar uma previsão

De como e quando cessarão.

Fique comigo,

Ate onde você suportar.

Prometo que me esforçarei

Pra acomodar novos climas.

Essa aridez e calor

Estão me sufocando.

Ainda sou deserto

Mas agora tenho uma sombra a mais ao meu lado.

Di Camargo, 28/10/2010

Di Camargo
Enviado por Di Camargo em 28/10/2010
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