Tempo
Mais um dia levanto-me preguiçosamente
Inicia-se a rotina quotidiana uma e outra vez
Acordar, espreguiçar e finalmente abrir os olhos definitivamente
Daquele que vai ser mais um dia entre tantos nefastos dias
Ai como o corpo recusa a tristeza e monástica labuta
Implora por se juntar às aves, fazer por um dia essa permuta
Quer sair, correr descalça pela praia ainda gélida
Quer ser livre, deitar-se e sentir o vento na minha pele candida
Oh alma aprisionada neste corpo que escreve
A saudade da liberdade quando ainda nele não morava
Quando era somente éter de mil cores e assim teve
Infinita liberdade e assim conquistava
Um lugar mais próximo da Lua
Um lugar onde seria desprovida e somente tua
Mas não! Ainda não é agora a hora da liberdade
É o momento de ser forte neste corpo e com suavidade
Aprender, mais uma vez, mais uma vida
Os obstáculos, mágoas, tudo ultrapassar
Assim, quem sabe? Terei então a famosa alegria pretendida
De num mar calmo sem tempestades habitar
Dia após dia, ano após ano, década após década,
Sinto-me transformar, umas vezes subitamente
Outras meses e anos passam igualmente
Umas vezes floresço através da perca
Outras através da descoberta
Tempo essa incontornável medida
Bem te tento fintar qual futebolista
Questiono-te incisivamente qual jornalista
Tempo diz-me ao ouvido
Quanto mais tempo terei que rezar à esperança?
Fazes-te de surdo mas sei que estás aí escondido
Sei porque me trazes ainda uma suave lembrança
Um pequeno fio de Luz
Sempre presente no meu coração que aind reluz
Ah tempo! Sei que estás aí calado
Não importa! Continuarei a escrever neste refúgio recatado
Tempo até amanha, vou sonhar
Continuarei a minha busca além Mar.
Mafalda Sanches