Décima da Certeza
I
A dúvida carrega germe
e chaga da vida
Na arte de existir
não cabem os contudos
II
Um porém a um amor
traz a dor incontida
Posta em escultura
sem forma ou contornos
III
Os Pirralhos que se banham
à chuva caída
Despem-se daquela capa
ladra dos encantos
IV
Que esconde a frustração
em cada todavia
Na infância se ensaiam
sem sexo os cantos
V
Que proclamam a certeza
da dúvida inibida
A dizer um não à flor
dos aromas furtados
VI
Mesmo no poema a ressalva
faz uma ferida
Os sentimentos só brilham
quando inteiros
VII
A auto-estima é prima-irmã
Bonita e envaidecida
A incerteza faz a fenda
dos males maduros
VIII
A própria vida só é vida
se nascida e parida
Se metido o todavia sobram
Só caminhos escuros
IX
Há muito para aprender
na paixão envelhecida
Só as convicções edificam
Velhos valores intactos
X
É o império de ver
Vitoriosa a investida
Em versos que invocam
Visitantes futuros