Sussuro vital
Minha vida pesa às costas.
Encurvado,
Vejo longe uma silhueta
Meio feminina,
Meio masculina,
Acenando-me.
Eu já no ápice da velhice
E do cansaço,
Com a vida escancarando
Todas as portas do saber
Tento distinguir
Quem acena com tanto ardor.
Será um anjo?
Será a mote?
Serão espíritos
De mundos inóspitos
Tentando levar-me
À insanidade?
Aos poucos a silhueta esvai-se no horizonte
Entre o vermelho lume do astro-rei
E os ventos gélidos vindos por detrás das serras.
Sinto uma paz
Uma força sobrenatural
E pacificadora de espíritos
Adentrando meu corpo gasto.
Curando a cegueira
Da minha hipocrisia.
Os ventos trazem consigo
A essência do que é mais belo.
E vão estreitando-se
Entre os labirintos
De minha face senil afagando-a.
Após todas essas sensações inebriantes,
Desvendo que a incógnita
Silhueta turva queria dizer:
Que mesmo no auge da vida
Aindahá muito o que celebrar.