história de uma ambição
levou um tempão
pra fazer um poema
que ficou feio
levou um tempão
pra fazer um poema
que ficou pelo meio
levou um tempão
pra ficar quieto
levou um tempão
pra sentir-se repleto
estava sóbrio, mas podia
falar mal de si mesmo
não havia multidão a enfrentar
não havia o que tergiversar
não mais podia versar
chegara o destino, mas não a meta
a metamorfose não se completara
não havia mais tara a que apelar
nem pra ressuscitar havia tesão
levei um tempão
pra descobrir que falava comigo
palavras saindo pelo umbigo
eu, um poeta atrevido,
recalcitrante e pequeno
escapando talvez pelo duodeno
a imagem de alguém que é, ao menos,
a história de uma ambição
Rio, 10/06/2009