cabra marcado
desesperado pra ter
o que escrever – só um texto
e, em consequência, um contexto
mesmo sem ter um pretexto
contesto esse tipo de súplica
mas nunca a renuncio
e dela faço meu cio
passando pela avenida
vejo a mais linda donzela
fujo pensando que ela
quer me encontrar no Japão
e na empena do prédio
a propaganda na tela
não berra, mas faz sermão
como ser tão inocente
um sertão cheio de gente
capim melado e cozido
couro de cobra encardido
rosário no matulão
vou liquidar com o xerife
chifre de bode azulado
trago o meu peito marcado
pelo luar do sertão
ela se foi, mas eu não
o amor ficou e mais eu
foi o que me sucedeu
cabra marcado pra ter
sempre o que escrever
nem quer saber de urinar...
Rio, 12/05/2009