DESFIANDO O NOVELO

Dentre mãos paralelas,

Arrimado aos cotovelos,

Sob acesas luzes de velas

Fui desfiando o novelo

Das minhas muitas misérias,

De meus múltiplos medos

Purguei fantasmas em escarros;

Derreti desgraças em degelos;

Esfumei infâmias tal cigarros;

Desmazelei penúrias e cabelos;

Religuei as rupturas do jarro;

Emborquei meus cruéis pesadelos!

Descarei-me aliviado à janela...

Revesti-me na firmeza de camelo;

Encorpei de calma as entretelas;

Tosquiei a aflição dos apelos;

Esculturei-me inovado em barro!

Desde então sou eu! Sem sabê-lo...