Criando novas asas

Encolhida sobre mim mesma,

Envolta em brancas cobertas...

Crisálida de lã,

Cálida e aconchegante,

Onde toda noite uma nova transformação

Está a se operar...

Em sonhos confusos começo a conciliar

A dor do que se foi

Com a ternura que restou...

Não é porque um sonho de amor

Tristemente terminou,

Em silêncio e desilusão,

Que minha vida irá se acabar...

É necessário o tempo

Para a crisálida abandonar...

Lentamente crescem novas asas,

No lugar das que foram perdidas...

Arranquei eu mesma essas asas partidas

Engolindo a dor,

Sufocanto grito...

Tinha que ser feito,

Mesmo que deixasse meu coração aflito...

Para haver cura

É necessário a ferida reavivar.

Por isso tanto remexer,

Tanto fazer sangrar...

Para eliminar qualquer vestígio das asas partidas,

Que poderiam impedir as novas de serem geradas.

Noites de agonia,

Na cama deitada,

Envolta na crisálida de sonhos,

Lágrimas, tecido e lã...

Que eu abandonava a toda manhã,

Para tocar a vida,

Meio que anestesiada...

Mas restava a esperança...

Mesmo que tímida,

Mesmo que envergonhada,

A sussurar no meu ouvido,

Bem de leve:

"Tua hora de ser feliz irá chegar".

Por vezes ignorei,

Mas passei a acreditar

Ao sentir os primeiros indícios

Das asas novas,

Ainda frágeis,

Recém despontadas.

Comecei a crer que a cura,

Apesar de dolorosa,

Estava tendo resultado...

E a esperança, a meu lado,

Cada vez mais alto,

Ficava a me acalentar:

"Paciência...Espera só mais um pouco...

Deixa a dor se assentar...

Acredita: tua hora de ser feliz irá chegar".

Sei que o coração ficará por um tempo triste,

Acabrunhado...

Mas isso haverá de passar.

Mas logo terei novas asas,

Novos sonhos...

Para ganhar o céu e sozinha e voar.

Mas enquanto elas não me sustentam,

Fico aqui, a esperar...

Ainda tenho que me livrar das últimas sequelas,

Recuperar-me das múltiplas feridas...

Dar a cada dor sua resolução,

Para não ter, mais uma vez,

Minhas asas partidas...

Pode parecer tolo,

Mas pretendo me livrar destas amarras...

Para nunca mais assim sofrer,

Para por mau amor não penar...

Após isso,

Primeiramente,

Vou sozinha voar...

Para usufruir do vento,

Para apreciar a liberdade...

Não é que do amor não sinta saudade...

Tenho saudade do amor verdadeiro,

Daqueles que a gente se entrega por inteiro...

E que espero, um dia, finalmente encontrar.

Zannah
Enviado por Zannah em 21/10/2008
Código do texto: T1240936
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