Gladiador de Sonhos
O Zé gostava de ir à Dinamarca
Dizia ele que queria perceber o porquê?
Era um sonho velho e cansado
Perdido num livro de sonhos empoeirado
Arrumado nas gavetas da memória
Longe do olhar presente e atento do quotidiano
Ainda assim era um sonho
Uma réstia de luz e de vontade
Parecia longínqua a possibilidade
Demasiado abstracta para se tornar realidade
Como este haviam muitos mais
Demasiados sonhos por concretizar
Milhares deles invadiam a imaginação
Deixavam o seu dono desconcertado
Pouco á vontade para expor a sua ideia
O pensamento que escondia dos outros
Vergonha, cepticismo, incredibilidade
Tantos sentimentos que afastam as emoções
E que enclausuram o pensamento humano
Criado para ser livre....
Livre de pensar
Livre de agir
Suficientemente forte para acreditar!
Algures no rebuliço que nos tolda a visão
Existe um espaço onde guardamos os nossos desejos
Projectos que gostávamos de realizar
Aventuras nas quais quereríamos ser pioneiros
Locais que almejaríamos alcançar
Tantas quimeras que teimamos em não concretizar
Obstáculos que criamos à felicidade
Como se fechássemos a porta e nos resignássemos
Como se fosse possível viver sem sonhos
Ou para os mais materialistas ambições
Engraçado este acto de sonhar
Fechar os olhos e idealizar novas ideias
Ser suficientemente arrojado para quebrar barreiras
Inovar a cada passo e em cada instante
Voar em direcção ao infinito e absorver a essência
E por vezes simplesmente parar...
E pensar o que é que eu tenho feito com os meus sonhos?
Alguns sonhos são difíceis de classificar
Outros difíceis de realizar
Mas será que este mito que nos incutiram é verdade
Será que não somos capazes de realizar
De batalhar, lutar, evolvermo-nos e ceder
Abdicar e racionalizar para um dia alcançar
A imagem que abarca todo esse esforço?
E até que ponto a concretização dos meus sonhos
É a concretização dos sonhos de outros alguém
Não seremos nós ilhas isoladas de sonhos
Não faremos nós dos nossos sonhos algo não partilhável
Até que ponto estamos comprometidos com os nossos sonhos?
O Zé queria ir à Dinamarca....
Porque é que ele não ia? O que é que o impedia?
Seria apenas a ideia de que nunca conseguir alcançar?
Ou seria a resignação e o homicídio de um sonho
Será possível ceifarmos os nossos próprios sonhos?
Até que ponto somos suficientemente fortes para lutarmos por eles
Envolvemos- nos em batalhas e disputas todos os dias
Por vezes banalidades outras vezes necessidades
Gladiamo-nos contra tudo até com os nossos sonhos
Curiosa esta ideia de aniquilar sonhos
Pessimismo, ausência de clareza, mito, tristeza...
A única coisa que o Zé queria era ir à Dinamarca
E nós o que podemos fazer nós para concretizar o sonho do Zé?
Não seremos nós por vezes egoístas demais
Tanto que não percebemos até que ponto podemos alterar
O rumo da vida de alguém com a concretização de um sonho
Um sonho que pode mudar paradigmas
Revolucionar estruturas
Modificar quem colabora com o sonho
E fazer o outro imaginar outro sonho porque o sonho velho
Ou o velho sonho esse já foi concretizado.
Risca do teu livro de sonhos os sonhos que vais alcançando
E regista mais sonhos alguns ainda mais ambiciosos
Faz apenas um favor a ti próprio
Não seja um gladiador de sonhos!