FAXINA

Resolvi, aos 50,

Em meio a tanta bagunça,

Fazer uma faxina na minha vida.

Por isso, vasculhei as gavetas da minha alma.

Descobri tantas coisas que já não uso, guardadas!

Coisas inúteis.

Joguei fora os meus medos e angústias.

Encontrei saquinhos de aromas diversos,

Alguns, com os cheiros da minha infância,

Guardei, para jamais esquecer.

Coloquei uma caixa de dúvidas no saco de lixo.

Sempre ficam algumas, mas estão muito escondidas,

Não consegui tirar todas.

E, atrás de todos os velhos livros,

As alegrias...ainda estavam conservadas, apesar do tempo.

Mas o curioso foi aquele velho bauzinho...

Muito velho mesmo!

Carcomido pelo tempo, trancado...

Procurei a chave por toda a minha casa interior.

Depois de longas horas de busca, encontrei.!!!

Abri o bauzinho devagar,

Sem medo, mas cheia de cautela.

E, com surpresa, descobri o que havia lá dentro:

Um monte de desculpas que nunca foram usadas,

Desculpas às minhas filhas

Por ter dito NÃO tão poucas vezes,

Por ter facilitado demais as suas vidas

Por não tê-las deixado aprender tb com a dor.

Desculpas à minha mãe

Por não ter conseguido amá-la tanto qto merecia.

Desculpas a Jackson, por tê-lo encontrado tão tarde!

Desculpas a mim mesma: eu deveria ter amado mais!

Desculpas aos meus alunos

Por não ter me feito compreender

Por não me ter revelado mais interiormente

Por tê-los olhado de forma “assustadora”

Desculpas por ter sido tão exigente.

Desculpas por ter tentado torná-los, a cada dia, mais adultos.

Desculpas por ser sempre tão chatamente ética.

Desculpas, principalmente,

Por não ter conseguido mostrar

O qto eu os amei, verdadeiramente.

Encontrei na minha faxina tb

Dúvidas soltas, aqui e ali

Essas, aspirei rápido, livrei-me delas.

Havia um pote de ciúmes...

Quebrei-o e o vento seqüestrou o sentimento.

Não pagarei pelo resgate!

O orgulho disfarçado de poeira

Foi banido com o espanador,

A arrogância, escondi para não ver mais.

Mas bom mesmo foi encontrar,

Em meio a tanta bagunça, o amor.

Desgastado, é verdade, mas ainda ali,

Fiel a mim.

Doidinho para sair e fazer festa.

Havia amor de todo tipo e de todos os tamanhos.

Limpei cuidadosamente

Para que não ficasse nenhum de fora.

Fui juntando cada tipo de amor

Percebi que já não havia espaço para guardar tantos deles

Todos os espaços estavam ocupados.

Daí percebi que havia coisas que não poderia jogar fora,

Precisava conservá-las!

Abri a porta,

Saí de mansinho.

Tudo ajeitado.

Cada coisa no seu lugar.

O amor ficou ali,

Tomando conta do meu coração

ZanaPires
Enviado por ZanaPires em 28/06/2008
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