raiva

não existe refúgio

ou escapatória

dia após dia

esgoto-me no esgoto

de regurgitações

dos estúpidos seres

que me cercam

e se recusam a partir

não existe descanso

ou alívio

do cotidiano lindo

e colorido perante

o azul do céu

silenciosamente disfarçando

a tristeza enterrada

no peito dos infelizes

indigentes empobrecidos

na mente e no coração

caminhando vagarosamente

sem saber que na verdade

vagarosamente de arrastam

para o conforto

de seus eternos e inevitáveis lares

abaixo da terra

se humildemente

me fosse concedido

o poder da decisão

humildemente faria tudo

desaparecer

sem remorso

sem tristeza

apenas com

a infinita raiva

que reside em meu coração

por aqui ser obrigado estar

por aqui ser obrigado a falar

por aqui ser obrigado

a permanecer

e testemunhar

com indizível horror

a ingenuidade humana

diante do absurdo

sistema que perpetuam

diante àquilo que nunca

realmente

teve o direito de existir

não alego trazer

o belo

não espero ser compreendido

pois a estupidez também o permeia

não espere o calor

das palavras gentis

não espere encontrar aqui

ajuda ou esperança

não tenho intenção

mas ofereço por egoísmo

a verdade

cabe a você

com sua própria

verdade

confrontar aquilo que aqui

escrevo com tinta e sangue

ou não