Existência Inexistente

Existência Inexistente

Tens razão,

um dia irei também.

Irei e só lá saberei se realmente valeu a pena o que fiz aqui.

Eu, adulto errante

que nunca conseguiu digerir a vida por mais que ruminasse-a.

Eu, somente eu,

o saco de pancada predileto do destino.

Quando eu for,

quem jejuará trancado no quarto,

em luto profundo por mim?

Que estrela se apagará por não suportar mais olhar para a Terra

sem puder me ver caminhando e escrevendo?

Que criança norueguesa pranteará minha partida?

Que autor escreverá a biografia ao menos fictícia de minhas aventuras?

O que deixará de funcionar depois que eu for?

Pelo menos Buda, Confúcio e Maomé deixaram males

memoravelmente ortodoxos até nos dias atuais.

Talvez eu finalmente me arrependa ao chegar lá,

pode ser, pode ser…

Quando eu for,

deixarei todos os automóveis continuarem suas trajetórias,

deixarei todas as luzes para ser acesas,

deixarei todos os meus vícios

para que sejam o Faraó dessa ralé que só sabe julgar,

deixarei tudo o que nunca foi meu,

deixarei tudo…

Espero que lá seja o mais distante possível daqui,

e se eu me arrepender quando lá descobri e puser os olhos no rosto da verdade?

Ó Deus, que outras vergonhas e punições me esperam por lá?

Basta, chega por hoje,

mandem por favor mudar de assunto,

já não me basta este inferno impossivelmente real e invisível

que devora paulatinamente as células proeminentes de meus pensamentos?

Volte, não encontrarás nada de interessante por aqui.

Retroceda, não encontrarás o que queres nesse território.

Siga a calçada de tijolos amarelos e chegarás ao princípio de tua dúvida.

Vieste procurar as repostas no lugar errado:

Não estão comigo,

nem com os cientistas,

nem no fundo dos oceanos,

nem com os poetas,

tão pouco com os filósofos,

nem em parte alguma.

As repostas estão num beco inacessivelmente inexistente,

poucos voltaram de lá.

Aqueles que escaparam receberam loucamente

o título de “Grandes Exemplos da Humanidade”,

e enfeitam as paredes de seus aposentos com Diplomas Universitários.

Nunca queira ir lá,

nem em última hipótese fuja para lá,

fique assim mesmo,

do jeito que o destino te cuspiu.

Se eu te ensinasse a moral da fábula,

como decifrarás as charadas que a vida te vomitará?

Se eu te indicasse o caminho certo,

como aprenderás a tomar tuas próprias decisões?

Do que adiantará perdoares teus inimigos

se não te perdoas pelo único erro que cometeste?

Machuque-se,

porém se machuque unicamente e exclusivamente pelas tuas mãos.

Sente-se e aqueça-se perto do fogo intangível de tua loucura,

aproveite e mergulhe fundo dentro do teu ser.

Quem sabe tu encontres alguma coisa por lá,

quem sabe tu encontres o que eu nunca achei dentro de mim.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 01/01/2008
Código do texto: T799112
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.