A impossibilidade de reinventar a roda
Quisera agarrar-se ao tempo e fazê-lo seu por direito.
Precisava ser feliz agora, não amanhã, ou daqui a alguns anos...
O passado já havia passado, o "futuro, a Deus pertenceria".
Recolheu todos os relógios da casa e os guardou a sete chaves, melhor seria se houvesse a possibilidade de controlar os
movimentos da terra, ao menos por alguns segundos, por alguns instantes.
Quisera ter olhado para dentro, para o seu interior, não iria escavar nada, mas conectar-se com o seu eu.
Era hora de encarar a realidade. Tivera um insight como que um aviso dos céus - é agora ou nunca.
Tentou não olhar para trás, e, sem saudosismo melancólico, sem mágoas, nem tristezas, seguiu como o ciclo do tempo;
começo, meio e fim. Agora era o fim. Sorte a dele, (do tempo), que passa sem depender de nada nem de ninguém e segue
seu fluxo. Talvez também por isso, não corra o risco da mesmice; um dia após o outro, e depois outro, que emendam-se
nas noites, e depois nos dia seguintes -, e assim segue...
Desgarrar-se-ia. Criaria asas e iria embora.
Afastaria de si a ideia e o desejo de querer mudar as pessoas, de consertar o mundo, ou enquadrá-lo numa moldura a seu
modo, a seu favor. As coisas são como são, as pessoas são como são, e pronto!
Sentara à beira do rio e perdera-se em pensamentos... Que adiantava pensar no "antes", arrepender-se ou se deixar ficar no "durante", se bem sabia das conjecturas do "depois"? O antes, ficara paralisado, eternizado, o durante decidido e
compreendido. Não tinha mais o que fazer.
Naquele instante percebera o possível, e isso já lhe bastava. O tempo do "coma" passara. Precisaria levantar-se do
leito de "quase morte" e continuaria a vida.
Ciente de que a roda já fora inventada e continuaria girando, assegurara-se de que ainda vivia e era providencial salvar-se.
A monotonia, a mesmice do quem sabe amanhã... daqui a um ano...ou nunca, foi crucial.
...E antes que adormecesse por mais tempo, por mais anos naquele mesmo lugar, P A R T I U!