SAUDADE DA POESIA

Houve um tempo em que eu podia ser poeta

Num arremedo de arte, transpor para qualquer parte

A dor lancinante dos que, solitários, lêem o mundo

Houve um tempo em que eu poderia

Descrever os olhos dos que têm fome

Em versos livres esvoaçantes, feito navalhas

Lá no passado, antes das escolhas que a gente faz,

Eu poderia escrever, sem este grito entalado na garganta

Sobre vida, morte, mística, alienígenas, azar e sorte

Sobre justiça e seu oposto

Sobre o veneno e seu suposto gosto

Sobre o labirinto, sobre a incerteza

Sobre a infinitude desta existência

Quem sabe, sobre a demência...

Sob a sombra do receio

A Palavra cala

Sob a mão do que me odeia

A Palavra cala

Este fantasma agora se agiganta, quebranta

Aridez de alegria

Mas ainda assim, avante!

Nilvan Oliveira
Enviado por Nilvan Oliveira em 06/09/2020
Código do texto: T7056434
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