Não

No amor quantos não

Recebeu, João.

Nem ele mesmo sabe a conta

Já perdeu faz tempo a contagem

Ademais João sempre foi,

Ruim de matemática.

Pode ser mais de mil

Pra lá de um milhão de nãos

Disso ele sabe.

Ele também sabe, ou melhor

Imagina que a quantidade de nãos

Que já recebeu na vida

Se convertidos em blocos de concretos

Daria para reconstruir:

A Muralha da China.

Hoje sexta-feira ele recebeu um não

Quem lhe deu um não foi Ana

A caixa do sacolão

A quem ele vinha cortejando

Desde o começo da pandemia...

João ficou triste.

Porém João sabe.

Que às vezes um simples e sincero Sim!

Recompensa um milhão de nãos.

João também sabe que o diamante vermelho,

A orquídea negra, e a rosa púrpura-fogo da paixão

Só se alcança com muito esforço.

Hoje João vai tomar a sua cachaça

Comer uma poção de torresmo,

E ouvir um pouco de música brega,

Amado Batista, Aldair José...

Amanhã...Amanhã é sábado,

Ou melhor amanhã é outro dia.

João vai acordar, levantar assobiando

Escreverá um poema ruim de amor

E recomeçará do zero.

Tom Vital/31/07/2020