Tardio.

Asas, velas, sonhos, pensamentos 
Vagam no vazio firmamento, num compasso lento, 
Entre o céu e o mar... pela noites tristes, ao relento, 
Vão tomando assento, no pior momento de se assentar.

E quando as malas estão prontas, é que então a vida se dá conta, 
Do que o destino sempre apronta, ao trazer, à tiracolo, a solidão. 
A perda é de tão grande monta, que sem dó a solidão encontra,
Uma alma arrasada e tonta, um perdido e vago coração. 

E a vida, agora, faz-se boemia, 
Onde um imenso amor ardia, e "ad eternum" se dizia,
Mas que tão pouco perdurou! Hoje, copos espumam nostalgias, 
Pelas longas noites frias, a invadir os tristes dias,
Que o destino assombrou.

E entre tragos de saudade, O que foi felicidade, nas frias raias da verdade,
Hoje é só melancolia...  

Com doses acres de realidade, pelos bares da cidade, 
Só traduz insanidade, o remorso que tardia.
 
A paz, custou tal aventura,
Frio cálice de amargura, no qual tanta loucura
Mergulhou e transbordou... hoje, no vazio que perdura,
Não existe mais doçura e talvez nem tenha cura,
Essa fissura que ficou.