AS LEMBRANÇAS LANÇAREI AOS POMBOS
Vejo a praia que és tu
Em ondas a tatiar, me buscar e recuar.
Vejo a lua que também és tu
Que de cheia começa a minguar,
E que já não inspira o violão;
Nem os trovadores;
Nem as senhoras, nem os senhores;
Nem mesmo os lobos;
Nem as sereias;
Nem o mar.
Vejo a relva que foste tu
A esverdear e secar.
O sol que também foste tu
Que vivia a me acalentar,
E que agora queima a cera que liga as penas que roubei dos pássaros para te alcançar.
Vejo-me triste a definhar
Tal como as folhas de outono
Que caem para o inverno chegar.
Vejo-me como um fósforo riscado;
Um cigarro frio;
Um marinheiro sem navio;
A fé que não sabe acreditar.
Mas o que és e o que foste pouco importa
O que serás há de ser meta.
As lembranças lançarei aos pombos para os alimentar
E o meu amor asfixiado ficará.
Tudo para te transformar na memória inútil
De um amor que não soube durar.