Devorador torturado
Devorador torturado
lê jornais de manhã
e lê o rosto no espelho.
Estreito, cáustico.
O barbeador, a lâmina, a espuma.
É preciso se comover com a música
do rádio canhestro.
O tempo é de comoção.
O natal na Terra é tão constrangedor
que é melhor ranger os dentes
depois do corte.
Uma menina anda flutuando
como que em bochecho.
Como cuspe,
como com açúcar.
O devorador torturado
do artigo impresso.
Um Van Gogh moderno:
cores,
dores,
traços,
expressionismos,
libertações
e choque.
Anjos são impraticáveis,
amores impublicáveis,
noites eternas.
Cascas, cérebros inúteis,
sonhos na mala.
O devorador torturado
tem fios dentais amarrados
nos dedos
e segredos na morte.