Idos de Março
Quarenta e quatro antes de Cristo
vinte e três punhaladas no torso de Julius Caesar
no mármore tinge impuro o sangue da república
idos de março
quinze de março.
Aqui hoje descobri que o dia da poesia no Brasil
não é mais em março
adeus Castro Alves!
Punhalada neste dia quatorze
não se respeitam mais os poetas condoreiros
bigodes às ventas sob a fúria do mar
março
mal posso me acalmar sob este sol inclemente
clemência nessa amargura do terceiro mês
quarenta e quatro depois de crivo.
Cansaço pungente de novos escrutínios
urna repleta de novos votos e quimeras
idos de março mais uma vez aqui
vencido em guarda
vanguarda.
Nestes idos de março
não quero o toque de sua pele branca da vida
não quero a entranha de seu sexo oferecido
sem cerimônia
nestes idos de março
repenso a sutileza do átimo do punhal na carne
no brilho rápido da paixão desigual
vimes incensos calafrios de alma
imaterial.