Ausência tua que me liberta

Rosas vermelho vinho

Elogios sabor chocolate

Sorriso atento diamante

Preenchiam o meu vazio

A cada instante

No entanto, resisti como uma rocha

—persistente, firme, forte—

Todavia teu encanto me venceu

Como um mar que encobre a costa

A cada raio de sol,

Canto dos pássaros

Admirando tua imensidão azul-aquarela

Sentindo teu abraço apertado

Fez-me chamar a felicidade

Pelo nome que a ti foi dado.

Submersa em ti

Contei em 1001 noites

Todos os meus sonhos e segredos

Até não conseguir imaginar-me

Sem ti; entregue estava

—corpo, alma e espírito—

por inteiro.

Quanto mais me doava

Mais do teu amor precisava

E apesar de minha entrega total

Percebi que tu,

Apenas “eu te amo” expressava.

Tentei apresentar-te aos meus amigos

Tu se retraiu; se recusou

Disse que neles não confiava.

Clamei por um porquê

Mas teu silêncio e expressão

Meu pedido reprovaram

De pétala em pétala

Me despedaçaram.

Comecei a evitar meus amigos

Teu sorriso então voltou

E o meu, aos poucos erodiu

Dissipou, evaporou.

Percebi que teu toque

Que minhas curvas moldava

Parecia agora me sufocar

Quando indisposta estava.

Mas tu era meu sol

Minha melodia final

E a ti dizer adeus

Parecia o fim de mim

O inferno de meu mal.

Quando pela primeira vez

Tentei me expressar

Tu calou-me com um beijo

Me deixando sem ar;

Um beijo tão terno

Doce, latente e ardente

Que minha dor por um momento

Desfez-se milagrosamente

Mal sabia eu

Era apenas o início:

Beijos doces, belas palavras

E meu coração, depositado em ti,

Aflito, palpitava, palpitava, palpitava.

As rosas vermelhas

Agora mais espinhos tinham

Do que pétalas amaranto

Teu abraço sufocava

E meu isolamento

Me tomava aos prantos.

Decidi então pôr um fim naquela dor

E tu, de ira se inflou

Disse naquela noite chuvosa de junho

Que sem ti, nada eu seria

Disse que contaria meus segredos

E que meus sonhos nunca se realizariam.

Lírios escuros de água, meus olhos se tornaram

Rio amazonas em tristeza pura eu era

Enquanto finalmente enxergava a ti

Sem tuas máscaras amarelas.

Ao tentar sair pela porta, porém

Teu pulso minha mão capturou

Me fazendo implorar por socorro

Me fazendo gritar de dor.

Naquele momento achei que seria meu fim

E não acreditei; lembrei das suas macias mãos,

Sorriso brilhante e Infinito amor por mim.

Nada se parecia com o ser

Que a porta estava

Impedindo-me de ser livre

De ser verdadeiramente amada.

E, quase sem forças e fôlego,

A beira de voltar para os braços

Do meu amado mal de novo

—Afinal, quem seria eu agora?

Sozinha no mundo

Vazia, por dentro e por fora?—

Olhei através dos vitrais da porta

—Ignorando os teus gritos

Que na casa ecoavam—

E diferentes luzes

Em minha mente refrataram.

Trazendo cor ao meu mundo de dor

—puro monocromático—

Que de raio em raio colorido

Me mostraram o passado

Quando antes de ti

Eu era pura liberdade;

Quando antes de ti

sentir ausência de amor

Era pura vaidade;

Quando antes de ti

O vazio que me habitava

Era o infinito perfeito

Do qual eu fazia parte

Minha vida era inteiramente minha

E minha trindade humana

Era a minha maior obra de arte.

E, ao voltar a realidade

Olhei para ti enquanto acorrentada estava

Agora, certa de que tua ausência

Seria uma benção de Deus

De incomparável generosidade.

Fênix renascida que agora eu era

Em rubra fúria a ti eu disse:

“Me largue!”

Com a força da mãe terra

Que me tomava, devolvendo

A minha vitalidade.

Tu então recuou

Temeroso pela luz dos olhos meus

E o tempo que lá fora se abria,

Finalmente soltando meu pulso

Enquanto eu, como o sol da meia-noite

Brilhava, ardia e crescia.

E passando pela porta do inferno

A ti gritei:

“Vais para longe de mim

Vou procurar a minha felicidade

Pois tu não me ofereceu nem a metade

Do que a mãe terra ainda me dará

Com ternura e graciosa bondade

E tu me verás voar alto

Como um pássaro que da gaiola fugiu.

Da tua falta construirei meu amanhã

Amanhã cheio de sonhos e alegria,

Felicidade que me espera

Pois a partir de hoje

Tua ausência me liberta!”

Klethon Gomes
Enviado por Klethon Gomes em 30/10/2019
Código do texto: T6782655
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