Última Lástima
Tem uma gota de você em mim
que escorre sempre que eu vou deitar
e que colore a minha pele branca
em cada fio de dor a cortar.
Há um oceano de amor aqui
e uma montanha de decepção
que esconde toda a nossa paisagem
com rochas escuras de ilusão.
O meu sorriso tranformou-se em lágrima,
sua mentira, na última lástima,
nossos abraços contruíram mágoa
que bate no peito sem perdoar;
Palavras não puderam explicar
nem eu, poeta, pude imaginar,
pois nem a pura imaginação
sabe se quer ou não continuar...
Tem uma fenda de paixão aí
em qualquer canto que você olhar
e em cada boca que você tocar
é um coração sozinho a gritar
Pois tem um rio de mim em você,
tem um riacho vivo a despencar
e nessa sua triste e morta lerna
eu sou a lanterna a iluminar.
Esse passado que corrói a alma,
e esse pesar fútil da loucura,
hão de passar sim por entre os mares
do tempo futuro à causa da chuva
E esse dilúvio há de ir embora
se esvaindo por todos os bueiros
e os buracos do seu coração
que é de mentira, é o seu vilão.
E tem uma gota de nós no Mar,
e um fruto de memória na Terra,
e os passarinhos que voam no Ar
agora cantam ao Fogo que apaga.
E o que existia, agora são cinzas;
São o começo de toda uma história
e de um poema de lamentação;
passarinho de inverno canta em vão.
Mas essa neve há de ir embora
se derretendo por causa do incêndio
desse inferno que é o meu coração:
o teu brinquedo e o meu vilão.