Vidas Secas: será o Fim?

Para Jovelina, reclamava Serafim.

Estava com o fígado alagado,

o basso embasado, o pâncreas detonado. Pulmões estropeados.

As juntas esfarrapadas, que nem bagas de amendoim.

Jovelina com sua santa paciência, ouvia chorosa.

Entre sóis, relvas, roçados, tempestades e invernadas.

Lágrima derramada.

Jovelina, minha muié que um dia foi tenra e viçosa, feito uma fulô;

não aguento mais o trabaio pesado com bois coxos.

Birra de criança; vaca que não derrama uma gota de leite;

Burro empacador e homens pulando de uma perna,

Pode inté pensá que são bons,

Mas para mim, são tudo bicho sem chifre,

Tronchos e mochos.

Por fim, atormentada respondia,

Para Serafim, por qualquer caminho,

segue a manada de jumento,

quando não direto para o matadouro,

emperra no atoleiro, ratiando feito Ford veio,

Sem óleo diesel, passado de validade,

Aposentado pela jovialidade, à espera do fim.

"Todo e qualquer caminho vai dar em um fim".

"Será?

- Não me venda ainda na Breque frida, não, muie! Valha eu, meu sinhô, Padim, padim Cisco! Te pido em louvô, traga minha alegria de volta, por favô!

- Oxente, se será? Para o trabaio e sorriso da vida, ocê um dia foi, agora de volta para a tristeza da morte, caminha o seu fim...

Contrário do que ouvira, Lina ainda era quase jovem. Comportamento mudado. Respondona e má criada, Jovelina deu com a língua nos dentes; juntou as panelas num canto do fogão, apagou o candeeiro, encerrou a prosa da noite e foi estirar os olhos para ver se depois de um barulho como àquele, conseguia ninar os catarrentos e acalentar, apaziguar o seu corpo numa madorna feita de pedra.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 25/11/2017
Reeditado em 25/11/2017
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