OCASO
Ó meu coração, aonde vais?
Volvei, que a neve cobre os caminhos.
Ah! Tu és tão desatinado!...
E é tão quente inda o teu querer!...
Mas se foi o sol... A chama dos castiçais...
Os olmos vergam e tu buscas carinhos
pelas cinzas... Antigos brasidos
das noites frias... Fulgores transidos...
Ó meu coração, cismai...
Que se foi a primavera
e desnudaram-se as macieiras...
Caíram as folhas das faias...
Sossegai, ó coração, os desejos febris,
que nos resta sonhar
pelos castelos já senis...
Ó meu coração porque não evocais
a sabedoria dos velhinhos?
Ah! Mas o teu vergar é um brado
à fúria de um presente a esmorecer...
E há tantas lembranças pelos escaninhos...
Velhas arcas... Poemas sentidos...
E já tão amarelecidos!...
Ó meu coração, para onde me levais?
Pois tudo não passa de quimera...
Águas que correram pelas ribeiras...
Ou que morreram nas praias...
Acalmai, ó coração, que tão hostis
são o vento e o nevar
dessas tardes cor de gris...
Autor imagem: P1nc - disponível em :http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=24874